Ilhas do mar

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A Beleza

Vale dos Flamengos - ilha do Faial


Eu sou bela, ó mortais! como um sonho de pedra,
E meu seio, onde todos vem buscar a dor,
É feito para ao poeta inspirar esse amor
Mudo e eterno que no ermo da matéria medra.
No azul, qual uma esfinge, eu reino indecifrada;
Conjugo o alvor do cisne a um coração de neve;
Odeio o movimento e a linha que o descreve,
E nunca choro nem jamais sorrio a nada.
Os poetas, diante do meu gesto de eloquência,
Aos das estatuas mais altivas semelhantes,
Terminarão seus dias sob o pó da ciência;
Pois que disponho, para tais dóceis amantes,
De um puro espelho que idealiza a realidade,
O olhar, meu largo olhar de eterna claridade!

Baudelaire

sábado, janeiro 20, 2007

Homenagem a Fiama Hasse Pais Brandão

Urbanização

Tudo o que vivêramos
um dia fundiu-se
com o estava
a ser vivido.
Não na memória
mas no puro espaço
dos cinco sentidos.
Havíamos estado no mundo, raso,
um campo vazio de tojo seco.
Depois, alguém
urbanizou o vazio,
e havia casas e habitantes
sobre o tojo. E eu,
que estivera sempre presente,
vi a dupla configuração de um campo,
ou a sós em silêncio
ou narrando esse meu ver.
Na névoa, a cidade, ébria
oscila, tomba.
Informes, as casas
perdem o lugar e o dia.
Cravadas no nada,
as paredes são menires,
pedras antigas vagas
sem princípio, sem fim.


A Literatura Portuguesa está mais pobre com a sua "partida"

Saiba mais sobre ela aqui e aqui

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Homenagem a José Carlos Ary dos Santos

Soneto

Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.


José Carlos Ary dos Santos

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A Concha


A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos,
O orgulho carregado de inocência
se às vezes dá uma varanda, vence-a
o sal que os santos esborou nos nichos.

E a telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
sentado numa pedra de memória.

Vitorino Nemésio

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terça-feira, janeiro 16, 2007

Café Sport ou "Peter's"


Açores: "Peter’s" na Horta O Peter’s é apenas o bar mais famoso do Atlântico Norte, aberto na Ilha do Faial há mais de oitenta anos aos navegadores de todo o Mundo.Inaugurado no dia de Natal de 1918, o Café Sport começou por ser mais um bar entre o movimentado porto e a cidade da Horta. Passados os ciclos dos navios do carvão, das aventuras dos hidroaviões e das viagens transatlânticas, e acabadas as noites de blackout da 2ª Guerra Mundial, o Café Sport transformou-se na base das tripulações dos rebocadores holandeses de alto mar. É na década de 50 que os iates recomeçam a visitar o Faial e que o Café Sport principia a ganhar uma dimensão sem paralelo. Hospitalidade foi sempre a sua imagem de marca, passando a ser o porto de abrigo para os iatistas, então conhecidos por aventureiros, que aqui faziam escala. Desde 1975 com José "Peter" Azevedo "ao leme", o Café Sport, ou Peter’s, como é mais conhecido, assiste impassível ao desfilar dos maiores navegadores do mundo, de muitas celebridades e de uma multidão anónima que aí continua a encontrar o abrigo e a delícia de uma bebida refrescante. Venha conhecer a animação da Horta e histórias de marinhagem neste recanto onde a genuína simplicidade dos Açores se manifesta na arte de bem receber.
(Texto retirado da net)

domingo, janeiro 14, 2007

Entardecer

Baía do Varadouro e morro de Castelo Branco - ilha do Faial

Mar
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.
Sophia de Mello Breyner

sexta-feira, janeiro 12, 2007

O Quintal

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Jardim

Jardim Florêncio Terra - cidade da Horta
Negro jardim onde violas soam
e o mal da vida em ecos se dispersa:
à toa uma canção envolve os ramos,
como a estátua indecisa se reflecte
no lago há longos anos habitado
por peixes, não, matéria putrescível,
mas por pálidas contas de colares
que alguém vai desatando, olhos vazados
e mãos oferecidas e mecânicas,
de um vegetal segredo enfeitiçadas,
enquanto outras visões se delineiam
e logo se enovelam: mascarada,
que sei de sua essência (ou não a tem),
jardim apenas, pétalas, presságio.
Carlos Drummond de Andrade "in Antologia Poética"

domingo, janeiro 07, 2007

Fim de semana... na outra ilha

Faial - visto do Pico
Pico - saída do porto
O canal e a ponta da Ribeirinha - ilha do Faial
Chegada à cidade da Horta
A torre, a casa

sexta-feira, janeiro 05, 2007

O Pico espreita...

Ponta do Pico - Cais do Pico

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Sonetos Românticos III

Súbita a inspiração faz o convite:
Mais alto, rumo à meta indefinida!
Ofereço o sentimento ao ilimite
Dos ecos do mistério que intimida.

Rebelde ao senso a Musa não permite
À razão que chegue à chama erguida
O canto aceso, magia que transmite
Remota música noutro mundo ouvida.

A minha ânsia mede-se por versos
E na descida a meus jardins submersos
Vedadas rosas rebentam-me na boca.

Poesia:angústia de querer sempre mais,
Saudoso endereço de termos imortais.
E ao fim de tanto anseio, a vida pouca.

in "O sol nas noites e o luar nos dias" Natália Correia



Este poema é dedicado a poetaeusou