Ilhas do mar

domingo, novembro 27, 2005

baleia à vista



pressenti-la era já fruir da tempestade.

o romance começava no gesto perfeito
como o fernando do almada
sustenta eternamente o cigarro.

não darei o foguete da minha vigia secreta.
prefiro vê-la passar ingénua e passiva
como um anjo antigo.

o meu delírio arriba à pequenez do monstro
- tão grande é a casa do seu abismo.

escrevo-o com a paixão de sempre:
um verso de espuma uma alegria líquida.
pontuo a ternura com alguns peixes menores
dela faço a pausa precisa a vírgula
maior na grafia do mar.

casaremos na igreja.
vou cobri-la de corais e de beijos.


Álamo de Oliveira

Pôr do sol



( vista parcial de São Roque)

quarta-feira, novembro 23, 2005

Agapantos



( a natureza fala por si...)

domingo, novembro 20, 2005

José Azevedo "Peter"



Como Faialense e Açoriana tenho que prestar homenagem a este homem que colocou a "minha" cidade da Horta e os Açores nos roteiros internacionais do iatismo, contribuindo para o engrandecimento do seu porto e das suas gentes.

Navegações XI




Olhos abertos do navegador
Mudam aqui a luz a sombra a cor
E também faces e gestos se modulam
Segundo elaboradas estranhezas
Outro o recorte da vaga e do penedo
Caudas de dragões seguem os barcos


Sophia

sábado, novembro 19, 2005

Os passeios em calçada portuguesa da "minha" terra


Ladrilhos da rua (4)

entrelaçado de argolas

"Margaridas"



(A natureza... fala por si)

sexta-feira, novembro 18, 2005

Torre de Anto




Uma torre constrói-se com palavras
com lembranças com vírgulas
com desastres
como um corpo despido devagar
como vida virada do avesso
poisada sobre o vento e sobre a chuva
uma torre constrói-se com mãos nuas
uma torre com versos hemoptises
e com tudo o que fica depois
de tudo:
as cartas os retratos restos
pó.
Uma torre com duas letras
só.

Manuel Alegre

quinta-feira, novembro 17, 2005

Chaminé



Antiga Fábrica da Baleia - Cais do Pico

quarta-feira, novembro 16, 2005

Fumo




Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos !

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos !

Os dias são Outunos: choram...choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho ! Estendo os braços !
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos !...


Florbela Espanca

segunda-feira, novembro 14, 2005

Pôr do sol



( estrada Praínha-São Roque)

domingo, novembro 13, 2005

Lagoa - Ilha das Flores



Foto: José Carlos Bernardino

sexta-feira, novembro 11, 2005

Ilha ao Longe




Por fora só o sinal duro
Altera o estéril horizonte:
Chega-se perto, e sai do escuro
O fôlego, o pão, a vaca, a fonte.


Vitorino Nemésio

quinta-feira, novembro 10, 2005

Sessão Solene




Por te terem aplaudido
Depois de teres falado,
Já ficaste convencido
Que falaste acertado
- Afinal foste iludido...


O caso é muito diferente:
Aqueles que estão à frente
Batem palmas por dever
De te agradar, simplesmente...


Logo a seguir, toda a gente
Bate - porque ouve bater -
Ao discurso que fizeste
...Com vergonha de dizer
Que não soube compreender
Nada do que tu disseste !


António Aleixo

quarta-feira, novembro 09, 2005

sindbad e a baleia

tinha a ilha dois olhos mansos por onde
penteava os dedos nos cabelos de sonho
preclaro de distâncias.
não lhe vira outros montes que o único
dorso do pão nem ribeira nem planta
que lhe enfeitasse o espinhaço. havia
um repuxo - isso sim - onde
lavava os dentes da poesia
e as barbas. era um jardim comigo flor.
que outros se lançaram à água ou
à chalupa da aflição é verdade.
mas tremor de terra não.
a ilha de olhos mansos apenas mergulhou



no mar.


Álamo de Oliveira

sexta-feira, novembro 04, 2005

Nesta Hora



Nesta hora limpa de vaerdade é preciso dizer
[a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia
[em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira
[e não meia verdade

Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida

O demagogo diz a verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe

A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados

Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar

Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir o canto do terrestre
- Sob o ausente olhar silente de atenção -
Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste


Sophia de Mello Breyner

terça-feira, novembro 01, 2005

Porta de Igreja



Igreja StºAntónio - Pico