A Concha
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos,
O orgulho carregado de inocência
se às vezes dá uma varanda, vence-a
o sal que os santos esborou nos nichos.
E a telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
sentado numa pedra de memória.
Vitorino Nemésio
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O OVO
Mas queria, mais que mar, bater
Ainda as praias carregadas
De passos, conchas e do haver
Das aves livres lá pousadas
Que já não posso recolher.
E um ovo,
Nada mais que um ovo,
Num punhado de pó, entre juncais,
Que desse vida, penas, povo
Para as paragens e arcais.
in) Vitorino Nemésio
By Anónimo, at 7:47 da tarde
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