Ilhas do mar

domingo, janeiro 25, 2009

À Beleza

Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.

És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.

És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.

És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.

Miguel Torga, in 'Odes'

4 Comments:

  • De facto, as fantásticas imagens do Pico andam muito bem "acompanhadas" pelas Letras.

    Grande Pico!
    Grande Torga!

    Parabéns e obrigado.

    By Anonymous Anónimo, at 11:04 da tarde  

  • Obrigada
    abraço

    By Blogger Maria Silva, at 11:28 da tarde  

  • Olá Fernanda !

    Bem escolhido este belo poema à beleza e ao "sorriso" dessas pedras negras . . .
    Um bj

    By Blogger zecagomes, at 5:41 da tarde  

  • É belo este poema, como todos os de Torga...
    Bonita a imagem que ficou acima...
    :))

    Beijos, Nanda

    By Blogger Maria, at 10:50 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home