As árvores
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.
antónio gedeão
Obra Poética, Lisboa, edições JSC, 2001
Obra Poética, Lisboa, edições JSC, 2001
11 Comments:
Excelente o poema que nos deixas para início de semana....
Gedeão é, será, eterno....
Obrigada, Nanda.
Beijinhos
By Maria, at 12:04 da manhã
*
Os animais são outra coisa.
,
se são !!!
,
conchinhas
,
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By poetaeusou . . ., at 6:44 da tarde
Olá Fernanda
Mais uma vez a tua sensibilidade está presente na escolha deste belíssimo poema do autor da " pedra filosofal. Faltava Gedeão para se juntar a Neruda , Torga , Sofia e Florbela Espanca, entre muitos outros. Quem será o próximo?
Zé Gomes
By zecagomes, at 7:58 da tarde
Uma imagem bonita e um poema interessantíssimo.
By Rui Caetano, at 10:05 da tarde
Reconheço que a imagem ilustra um belo poema... mas apesar da virtude vegetal, prefiro a situação do contacto dos animais, mesmo tendo em consideração o seu defeito de, além de amarem, também serem frequentemente capazes de odiar.
By Carlos Faria, at 11:46 da tarde
*
mensagem standard
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neste dia, recusa
o manto da solidão,
“ cobre-te de ti “
e sairás renovada(o)
,
in-poetaeusou
,
conchinhas
,
*
By poetaeusou . . ., at 2:06 da tarde
suspeito que a árvore se encontra no miradouro, à entrada sul da minha freguesia... mais pelo enquadramento do que pelo árvore em si.
By Carlos Faria, at 2:11 da tarde
Se vive na Ribeirinha sim.
By Maria Silva, at 4:26 da tarde
claro que vivo...
By Carlos Faria, at 3:21 da tarde
Tenho raízes do lado materno nessa freguesia.
By Maria Silva, at 6:33 da tarde
" Não há nenhuma Árvore que o vento não tenha sacudido e, entretanto,
elas lá continuam fortes e firmes!
Assim que percebermos que somos
Árvores dissipar-se-ão a maioria das nossas dificuldades." Quero ser uma Árvore!!! Patamargarida
By Anónimo, at 5:03 da tarde
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