Ilhas do mar

domingo, junho 03, 2007

Poema do homem só

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém


Rómulo de Carvalho/ António Gedeão

2 Comments:

  • *
    Todo o tempo é de poesia
    ,
    Desde a névoa da manhã
    à névoa do outro dia.
    Desde a quentura do ventre
    à frigidez da agonia
    Todo o tempo é de poesia
    Entre bombas que deflagram.
    Corolas que se desdobram.
    Corpos que em sangue soçobram.
    Vidas qu'a amar se consagram.
    Sob a cúpula sombria
    das mãos que pedem vingança.
    Sob o arco da aliança
    da celeste alegoria.
    Todo o tempo é de poesia.
    Desde a arrumação ao caos
    ,
    in)R.Carvalho ou A, Grdeão
    ´,
    ji
    *

    By Blogger poetaeusou . . ., at 4:56 da tarde  

  • «Quando o velho do higroscópio desaparecer no fundo da casota de madeira
    E a menina do higroscópio do cesto assomar à portinha do lado,
    hei-de ir contigo passear ao campo.
    Andando, poisarei o meu braço no teu ombro
    e com dedos de amor beliscarei
    o lóbulo macio da tua orelha.»

    do António Gedeão

    By Anonymous Anónimo, at 9:07 da tarde  

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