Ilhas do mar

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Composição

E é sempre a chuva
nos desertos sem guarda-chuva,
e a cicatriz, percebe-se, no muro nu.

E são dissolvidos fragmentos de estuque
e o pó das demolições de tudo
que atravanca o disforme país futuro.
Débil, nas ramas, o socorro do imbu.
Pinga, no desarvorado campo nu.

Onde vivemos é água. O sono, úmido,
em urnas desoladas. Já se entornam,
fungidas, na corrente, as coisas caras
que eram pura delícia, hoje carvão.

O mais é barro, sem esperança de escultura.


Carlos Drummond de Andrade

3 Comments:

  • Uma bela mensagem para o ano Internacional dos Desertos e da Desertificação. Uma realidade dura em que poucos são aqueles que estão dispostos a admiti-la.

    By Blogger Fátima Silva, at 12:10 da manhã  

  • 100% de acordo com a Fátima.
    Mais uma vez pertinência e bom gosto.

    By Blogger Desambientado, at 10:46 da manhã  

  • Fazer algo pelo Planeta e pela Humanidade é pertinente, não só com palavras mas, com acções. Eu tento todos os dias, muitas vezes sem sucesso...

    By Blogger Maria Silva, at 4:23 da tarde  

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