Ilhas do mar

domingo, março 08, 2009

FIVE O’CLOCK TEAR

Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos parados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher

Coisa mais triste o seu vaivém macio
p’ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora

Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la

E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito

E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos

E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio do silêncio
colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes

Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada

Emanuel Félix

3 Comments:

  • Que belo poema tão triste... feito de palavras macias...

    Obrigada, Nanda
    Beijinho

    By Blogger Maria, at 10:21 p.m.  

  • Q lindo poema,chorei de rir rsrsrx!!!!!!e tb Parabéns pelo blog!!!!!!!!

    By Blogger Marcelleee, at 11:57 p.m.  

  • Emanuel Félix...e está quase tudo dito.

    By Anonymous Anónimo, at 3:10 p.m.  

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