Ilhas do mar

quinta-feira, setembro 27, 2007

O Vulcão dos Capelinhos faz 50 anos











segunda-feira, setembro 24, 2007

Outono

O céu e o mar estão menos azuis,
Os campos de um verde acastanhado.
É o prenúncio do Outono a chegar.

Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!


Florbela Espanca

quinta-feira, setembro 20, 2007

Aniversário do Ilhas do Mar

Hoje é um dia especial para o Ilhas do Mar, neste segundo aniversário queremos agradecer a todos que nos tem visitado e deixado palavras de carinho, amizade e estímulo, muito especial ao grande amigo que ajudou na sua montagem e me incentivou a ter esta página.

Um grande abraço para todos e bebam uma taça de champanhe por nós

Fernanda

A Procissão

quarta-feira, setembro 19, 2007

A montanha pulverizada


Cabeço Vermelho- Prainha

A montanha pulverizada

Chego à sacada e vejo a minha serra,

a serra de meu pai e meu avô,

de todos os Andrades que passaram

e passarão, a serra que não passa.



Era coisa dos índios e a tomamos

para enfeitar e presidir a vida

neste vale soturno onde a riqueza

maior é a sua vista a cotemplá-la.



De longe nos revela o perfil grave.

A cada volta de caminho aponta

uma forma de ser, em ferro, eterna,

e sopra eternidade na fluência.



Esta manhã acordo e

não a encontro.

Britada em bilhões de lascas

deslizando em correia transportadora

entupindo 150 vagões

no trem-monstro de 5 locomotivas

- trem maior do mundo, tomem nota -

foge minha serra, vai

deixando no meu corpo a paisagem

mísero pó de ferro, e este não passa.



Carrlos Drummond de Andrade

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terça-feira, setembro 18, 2007

Procissão

Letra: António Lopes Ribeiro
Intérprete: João Villaret

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Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Arma Secreta

Tenho uma arma secreta
ao serviço das nações.
Não tem carga nem espoleta
mas dispara em linha recta
mais longe que os foguetões.

Não é Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou outros que tais.
É coisa muito melhor
que todo o vasto teor
dos Cabos Canaverais.

A potência destinada
às rotações da turbina
não vem na nafta queimada,
nem é de água oxigenada
nem de ergóis da furalina.

Erecta, na torre erguida,
em alerta permanente,
espera o sinal de partida.
Podia chamar-se VIDA.
Chama-se AMOR, simplesmente.



Rómulo de Carvalho/ António Gedeão

Nuvens

sábado, setembro 08, 2007

Paraíso


Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!


Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençois o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal" (1952-1962)

sábado, setembro 01, 2007

Estátua Falsa


Estátua Falsa

Só de oiro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minh'alma desceu veladamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em trevas se misturam.
As sombras que eu dinamo não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.

Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterrra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!

Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida no ar...

Mário de Sá Carneiro