Ilhas do mar

sexta-feira, setembro 30, 2005

A Ilha do Arcanjo

Onde o mar, com paredes de vidro, rodeia o centro inviolável: A Ilha



Eu vos direi da ilha que na dorna
do Arcanjo é eterna em chão escasso.
Fulva de gado ao dia. À noite, morna.
Embebida no verde. E o mar colaço.

Ilhado alumbramento em templo torna
a unção de comtemplar. Um ténue traço
de garça entre água e céu. A paz encorna
em lagoa e lavoura o tempo e o espaço.

Tanto silêncio confiado à luz!
Trema um nenúfar se um trilo tremeluz.
Caiam o sol de azul os agapantos.

Na cevadeira a broa luminosa,
romeiros nos persignam com uma rosa.
Suas rezas joeiram pombos santos.



Natália Correia

quinta-feira, setembro 29, 2005

Golfinhos brincando





quarta-feira, setembro 28, 2005

Esta rua



Esta rua nalguma tempo
Era o meu divertimento;
Agora passo por ela
Ligeirinho como o vento.



"Do cancioneiro faialense"
in Armando Cortes-Rodrigues, Cancioneiro Geral dos Açores, p.179

Os passeios em calçada à portuguesa da minha terra


"Ladrilhos da rua" 1

terça-feira, setembro 27, 2005

Caravelas

É lindo este soneto da Florbela Espanca

Eu gosto....

Cheguei a meio da vida já cansada
De tanto caminhar! Já me perdi!
Dum estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.

Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!

Se eu sempre fui assim este Mar morto:
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonho se rasgaram!

Caravelas doiradas a bailar...
Ai quem me dera as que eu deitei ao Mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...

Picos

domingo, setembro 25, 2005

Nirvana

A Guerra Junqueiro de Antero de Quental


Para além do Universo luminoso,
Cheio de formas, de rumor, de lida,
De forças, de desejos e de vida,
Abre-se como um vácuo tenebroso.

A onda desse mar tumultuoso
Vem ali expirar, esmaecida...
Numa imobilidade indefinida
Termina ali o ser, inerte, ocioso...

E quando o pensamento, assim absorto,
Emerge a custo desse mundo morto
E torna a olhar as coisas naturais,

A bela luz da vida, ampla, infinita,
Só vê com tédio, em tudo quanto fita,
A ilusão e o vazio iniversais.

sábado, setembro 24, 2005

Golfinho

sem título

"Vim aqui para contar os sinos
que vivem no mar,
que soam no mar,
dentro do mar.

Por isso vivo aqui."

(do Neruda)

quinta-feira, setembro 22, 2005

Canção

Clara uma canção
Rente à noite calada
Cismo sem atenção
Com a alma velada

A vida encontrei-a
Tão desencontrada
Embora a lua cheia
E a noite extasiada

A vida mostrou-se
Caminho de nada
Embora brilhasse
Lua sobre a estrada

Como se a beleza
Da lua ou do mar
Nada mais quisesse
Que o próprio brilhar

Por esta razão
Sem riso nem pranto
Neste sem sentido
Se rompe o encanto


in ILHAS

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, setembro 20, 2005

Ilha